Literatura no Enem 2024: assuntos que mais caem na prova

A área de Linguagens no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abarca muitas disciplinas. Entre elas, a Literatura, que está cada vez mais presente e é uma parte muito importante das provas.

Como sabemos, o Enem não cobra uma lista específica de obras obrigatórias (prática comum dos vestibulares). Entretanto, alguns conteúdos e livros aparecem com recorrência na avaliação!

Na última edição, por exemplo, houve um número expressivo de questões de Literatura em comparação com anos anteriores, o que demonstra a relevância de se atentar cada vez mais aos conteúdos dessa disciplina.

Os assuntos mais cobrados de literatura no Enem são:

• literatura contemporânea;
• interpretação de músicas e poemas;
• arte contemporânea;
• modernismo.

Temas de Literatura que mais caem no Enem

A equipe do Aprova Total analisou as provas do Enem dos últimos 8 anos (de 2016 a 2023) para descobrir quais assuntos de Literatura foram mais frequentes no exame. Como resultado, temos o gráfico abaixo:

Analisando o gráfico acima, notamos que a literatura contemporânea é um dos assuntos de que mais caem no Enem, com 33,3%; em seguida, estão conteúdos típicos da prova, como arte contemporânea, música brasileira e interpretação de poemas, com 28,3%.

Compondo o top 3, está o movimento modernista, focado na terceira geração, com 23,3%. Depois, temos o tópico de escolas literárias, com 10%; e, por fim, o conteúdo de introdução à literatura, com 5%, abordando o estudo dos gêneros literários.

Bora conferir com detalhes os conteúdos mais incidentes e que temos (quase) certeza de que irão cair na sua prova?

1. Literatura contemporânea

A literatura contemporânea é o conteúdo mais incidente do Enem! Entretanto, você precisa ter em mente que se trata de uma estética muito ampla, abrangendo as produções que foram feitas a partir da década de 60 até os dias de hoje.

Para se preparar para a prova, é importante destacar as características principais desse período e ficar de olho em alguns autores que parecem ser queridinhos do exame. 👀

Características:

• ecletismo (mescla de tendências);
• prosa com teor histórico, social e urbano;
• poesia com teor íntimo, visual e marginal;
• temática cotidiana e regionalista;
• experimentalismo formal;
• técnicas inovadoras;
• formas reduzidas e econômicas;
• intertextualidade e metalinguagem.

🧐 Autores para ficar no seu radar: José Paulo Paes, Lygia Fagundes Telles, Rubem Braga, Ferreira Gullar, Luis Fernando Verissimo, Itamar Vieira Júnior, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Carolina Maria de Jesus, Hilda Hilst, Paulo Leminski.

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Exemplo de questão de literatura contemporânea

(Enem 2023) Passado muito tempo, resolvi tentar falar, porque estava sozinha me embrenhando na mesma vereda que Donana costumava entrar. Ainda recordo da palavra que escolhi: arado. Me deleitava vendo meu pai conduzindo o arado velho da fazenda carregado pelo boi, rasgando a terra para depois lançar grãos de arroz em torrões marrons e vermelhos revolvidos. Gostava do som redondo, fácil e ruidoso que tinha ao ser enunciado. “Vou trabalhar no arado.” “Vou arar a terra.” “Seria bom ter um arado novo, esse arado tá troncho e velho.” O som que deixou minha boca era uma aberração, uma desordem, como se no lugar do pedaço perdido da língua tivesse um ovo quente. Era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada.

VIEIRA JR., I. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019.

Com a perda de parte da língua na infância, a narradora tenta voltar a falar. Essa tentativa revela uma experiência que:

a) reflete o olhar do pai sobre as etapas do plantio.

b) metaforiza a linguagem como ferramenta de lavoura.

c) explicita, na busca pela palavra, o medo da solidão.

d) confirma a frustração da narradora com relação à terra.

e) sugere, na ausência da linguagem, a estagnação do tempo. 

Resposta: [B]
Ao associar os sons desarticulados à imagem de um "arado torto" utilizado pelo pai, a narradora estabelece uma metáfora em que a linguagem é comparada a uma ferramenta defeituosa, um "arado torto", que dificulta a comunicação.

2. Artes, Música e Poemas

Não importa qual edição do Enem você vai fazer, sempre aparecerão questões relacionadas às artes visuais (especialmente arte contemporânea) e à interpretação de músicas e/ou poemas.

Para se dar bem nas questões de artes, é importante um certo conhecimento das manifestações artísticas ao longo do tempo e pensar, especificamente, no que define a arte contemporânea.

Lembre-se de que se trata de uma estética que surge após a Segunda Guerra Mundial, vem de uma cultura de massas antenada nas novas tecnologias e mídias a partir da globalização, e que tem como mote principal a reflexão sobre o significado da arte.

Quanto aos tópicos de música e poesia, a receita é a mesma: treinar a interpretação e se acostumar com a leitura desses gêneros. Aqui vão algumas dicas para interpretar melhor:

Leitura atenta:

• leia a fonte (se autor, informações, etc., auxiliam em algo);
• perceba a delimitação do comando da questão.

Linguagem:

• cuidado com os diferentes tipos de registros linguísticos;
• atenção aos signos linguísticos;
• reconheça formas, figuras e funções.

Contextualização:

• identifique a fonte, o comando, os referenciais, as informações de contexto histórico, social, estético, temático, etc.

Pessoalismo:

• para interpretar, utilize de seu repertório pessoal, suas experiências, emoções, etc;
• capte as sensações e reações ligadas ao poema ou à música. 

Exemplo de questão de Arte Contemporânea

(Enem 2023) TEXTO I

Logo no início de Gira, um grupo de sete bailarinas ocupa o centro da cena. Mãos cruzadas sobre a lateral esquerda do quadril, olhos fechados, troncos que pendulam sobre si mesmos em vaguíssimas órbitas, tudo nelas sugere o transe. Está estabelecido o caráter volátil do que se passará no palco dali para frente. Mas engana-se quem pensa que vai assistir a uma representação mimética dos cultos afro-brasileiros.

TEXTO II

Disponível em: www.grupocorpo.com.br. Acesso em: 2 jul. 2019.​

No diálogo que estabelece com religiões afro-brasileiras, sintetizado na descrição e na imagem do espetáculo, a dança exprime uma

a) crítica aos movimentos padronizados do balé clássico.

b) representação contemporânea de rituais ancestrais extintos. 

c) reelaboração estética erudita de práticas religiosas populares.

d) releitura irônica da atmosfera mística presente no culto a entidades.

e) oposição entre o resgate de tradições e a efemeridade da vida humana.

Resposta: [C]
A dança "Gira", ao estabelecer um diálogo com religiões afro-brasileiras e expressar essa interação na descrição e na imagem do espetáculo, representa uma nova construção estética erudita que incorpora práticas religiosas populares.

Exemplo de questão de interpretação de música

(Enem 2023) TEXTO I

Alegria, alegria

O sol nas bancas de revista 
Me enche de alegria e preguiça 
Quem lê tanta notícia 
Eu vou 
Por entre fotos e nomes 
Os olhos cheios de cores 
O peito cheio de amores vãos 
Eu vou 
Por que não, por que não?

VELOSO, C. Alegria, alegria. Rio de Janeiro: Polygram, 1990 (fragmento).

TEXTO II

Anjos tronchos

Uns anjos tronchos do Vale do Silício 
Desses que vivem no escuro em plena luz 
Disseram vai ser virtuoso no vício 
Das telas dos azuis mais do que azuis 
Agora a minha história é um denso algoritmo 
Que vende venda a vendedores reais 
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo 
E mais, e mais, e mais, e mais, e mais 

VELOSO, C. Meu coco. Rio de Janeiro: Sony, 2021 (fragmento). 

Embora oriundas de momentos históricos diferentes, essas letras de canção têm em comum a  

a) referência às cores como elemento de crítica a hábitos contemporâneos.

b) percepção da profusão de informações gerada pela tecnologia.

c) contraposição entre os vícios e as virtudes da vida moderna.

d) busca constante pela liberdade de expressão individual.

e) crítica à finalidade comercial das notícias.

Resposta: [B]
As letras das canções compartilham a referência às cores como um meio de expressar a inundação de informações gerada pela tecnologia.
No primeiro texto, os versos “Por entre fotos e nomes/Os olhos cheios de cores” referem-se às notícias na mídia impressa, enquanto o segundo utiliza expressões como “telas azuis” e “algoritmo” para sugerir a disseminação de informações na mídia digital.

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3. Modernismo

É claro que o Modernismo não ia ficar de fora! Essa escola literária é uma das preferidas quando falamos de Enem (e até dos vestibulares).

Durante seus estudos, você deve ter aprendido que ela se divide em três gerações (ou fases). A 1ª é mais nacionalista e de ruptura; a 2ª já mais estabelecida, conhecida como geração de 30. A 3ª faz inovações, mas também resgata alguns modelos clássicos; é conhecida como geração de 45.

O Enem vai cobrar de você principalmente a 3ª geração! Mas a 2ª não fica muito para trás, então é importante que você estude o movimento modernista como um todo. Veja as principais características de cada geração:

Primeira Geração Modernista

• busca por uma arte verdadeiramente brasileira;
• nacionalismo e valorização da identidade brasileira;
• anticonvencionalismo (temas e linguagem);
• valor: cotidiano, liberdade de expressão radical, ambiguidade; 
• destruição de nexos, verso livre, fluxo de consciência;
• forte influência vanguardista (origem europeia).

Segunda Geração Modernista

• influência do Realismo/Naturalismo (prosa); 
• influência do Simbolismo (poesia);
• universalismo e regionalismo;
• realidade social, cultural e econômica;
• valorização da cultura brasileira;
• temática cotidiana e linguagem coloquial;
• literatura panfletária (política e social): engajamento nos movimentos sociais e militância;

Terceira Geração Modernista

• passadismo e retorno ao passado;
• oposição à liberdade formal;
• experimentações artísticas;
• realismo fantástico (contos fantásticos);
• retorno à forma poética (valorização da métrica e da rima);
• influência do Parnasianismo;
• inovações linguísticas e metalinguagem;
• regionalismo universal;
• temática social e humana.

Exemplo de questão sobre a terceira geração Modernista

(Enem 2023) Dão Lalalão

Do povoado do Ão, ou dos sítios perto, alguém precisava urgente de querer vir por escutar a novela do rádio. Ouvia-a, aprendia-a, guardava na ideia, e, retornado ao Ão, no dia seguinte, a repetia a outros.

Assim estavam jantando, vinham os do povoado receber a nova parte da novela do rádio. Ouvir já tinham ouvido tudo, de uma vez, fugia da regra: falhara ali no Ão, na véspera, o caminhão de um comprador de galinhas e ovos, seo Abrãozinho Buristém, que carregava um rádio pequeno, de pilhas, armara um fio no arame da cerca... Mas queriam escutar outra vez, por confirmação. – “A estória é estável de boa, mal que acompridada: taca e não rende...” – explicava o Zuz ao Dalberto.

Soropita começou a recontar o capítulo da novela. Sem trabalho, se recordava das palavras, até com clareza – disso se admirava. Contava com prazer de demorar, encher a sala com o poder de outros altos personagens. Tomar a atenção de todos, pudesse contar aquilo noite adiante. Era preciso trazer luz, nem uns enxergavam mais os outros; quando alguém ria, ria de muito longe. O capítulo da novela estava terminando.

ROSA, J. G. Noites do sertão (Corpo de baile). São Paulo: Global, 2021.

Nesse trecho do conto, o gosto dos moradores do povoado por ouvir a novela de rádio recontada por Soropita deve-se ao(à)

a) qualidade do som do rádio.

b) estabilidade do enredo contado.

c) ineditismo do capítulo da novela.

d) jeito singular de falar aos ouvintes.

e) dificuldade de compreensão da história.

Resposta: [D]
A atração dos moradores do povoado pela recontagem da novela de rádio feita por Soropita se deve ao seu modo envolvente de narrar, cativando a atenção dos ouvintes.
Soropita conquista o público com sua maneira singular e prazerosa de prolongar o relato, enchendo a sala com a vivacidade de personagens marcantes.

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