Redação nota mil no Enem 2023: veja a análise

Os espelhos de redação dos participantes do Enem 2023 já estão disponíveis no Portal Único de Acesso ao Ensino Superior. No site, é possível ver as notas em cada uma das competências e a redação digitalizada. Para ajudar você a estudar, pedimos para a aluna Marliany Lívia Gomes Soares - redação nota mil no Enem 2023 - compartilhar a prova dela!

A partir disso, analisamos o texto e entendemos como ela conseguiu se sair tão bem na redação. O tema foi: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Vamos lá?

Análise da redação nota mil no Enem 2023

Uma das etapas importantes no estudo de redação é, justamente, a análise de textos nota máxima de edições anteriores. Com isso, o estudante consegue compreender quais características daqueles textos estão faltando em suas produções.

Por isso, vamos ler o texto da Marliany e entender os aspectos dessa redação nota mil no Enem 2023, da introdução à conclusão.

Introdução

Marliany decidiu iniciar a sua redação nota mil no Enem 2023 com uma citação histórica, com menção à Idade Antiga e citando o machismo presente na sociedade da época.

Ela fez um contraponto com a sociedade atual e antecipou os argumentos que trabalhou em seus parágrafos de desenvolvimento: preconceito de gênero e disfuncionalidade de práticas educacionais.

Percebe-se que a introdução da aluna conseguiu fazer tudo aquilo a que se propôs: 

• Abordou o tema em sua totalidade: “invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelo segmento feminino no Brasil, bem como os nefastos desafios para o seu enfrentamento”;
• trouxe uma contextualização para apresentar o tema: “Na Idade Antiga, a cidade grega de Atenas caracterizou-se por ter uma estrutura social altamente hierarquizada e machista”;
• Delimitou a tese de forma clara: “é fulcral uma competente discussão acerca desses aspectos, com o intuito de impulsionar o satisfatório funcionamento da sociedade”;
• Antecipou os argumentos trabalhados no texto: “o deplorável preconceito de gênero e a disfuncionalidade de práticas educacionais”.

Há ainda um repertório legitimado, pertinente e produtivo inserido já na introdução, além da abordagem completa do tema. Observando o texto como um todo (como veremos em seguida), nota-se que as três partes da dissertação estão presentes.

Dessa forma, a aluna já garantiu a nota máxima na Competência 2, que se refere à leitura crítica, ou seja, compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema.

Desenvolvimento da redação: primeiro parágrafo

No primeiro parágrafo de desenvolvimento, a redação trouxe aquilo que foi proposto na introdução: abordar o preconceito de gênero.

Isso aconteceu de forma clara com a inserção do tópico frasal na primeira linha do parágrafo: “convém mencionar a danosa influência da discriminação de gênero na questão supracitada”. O que vemos a partir daí são fundamentações e reflexões a respeito deste preconceito.

O parágrafo trouxe uma citação de Judith Butler e conseguiu relacionar tal citação com o cotidiano das mulheres. Ela diz que “a função de cuidar da casa e da família é atribuída às mulheres, em razão de essas serem consideradas “frágeis” e “incapazes” para o exercício do trabalho profissional e para a efetiva participação sociopolítica no território nacional”.

Essa relação entre o cenário descrito pela filósofa e a vida real é extremamente importante quando analisamos a produtividade do repertório e também a qualidade do projeto de texto. Aqui não há lacunas no desenvolvimento do argumento, justamente porque a aluna conseguiu relacionar todas as informações de forma objetiva e clara.

Assim, conseguimos entender o motivo de haver, por exemplo, o dado sobre a quantidade de mulheres que se dedicam exclusivamente ao cuidado doméstico: trata-se de um dado que prova a afirmação trazida pela participante acerca das funções a respeito das tarefas do lar.

📖 Entenda mais sobre questões de gênero e movimento feminista em nossa publicação especial sobre o tema.

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Desenvolvimento da redação: segundo parágrafo

O segundo parágrafo de desenvolvimento aborda o outro argumento citado na introdução: a disfuncionalidade de práticas educacionais.

Nele, novamente, tal argumento é inserido a partir de tópico frasal (“é propício ressaltar a limitada abordagem escolar relativa à igualdade de gênero”). Aqui, para fundamentar o argumento, a aluna cita a educação emancipatória de Paulo Freire.

Essa citação, porém, não ficou tão bem conectada com o argumento, pois não houve uma explicação mais aprofundada sobre o que seria esta educação emancipatória de Freire e como ela corrobora o problema em relação à desigualdade de gênero. Neste parágrafo, então, há um deslize pontual no desenvolvimento.

Analisando a grade de correção do Enem, sabe-se que o nível máximo da Competência 3 aceita deslizes pontuais e, por conta disso, não houve penalização.

Ainda nesse parágrafo, agora voltando o olhar para a Competência 4, vê-se que a candidata teve o cuidado de inserir operadores argumentativos e também de evitar repetições — por isso a inserção do termo “mulheril” em substituição a “mulher”.

Os operadores argumentativos intra e interparagrafais foram inseridos no decorrer de todo o texto. Além disso, não há inadequação coesiva observada e não se trata de monobloco, por isso a dissertação atingiu a nota máxima nessa competência.

⚠️ Saiba as diferenças entre os conceitos de coesão e coerência, competências 3 e 4 da redação do Enem.

Conclusão

Por fim, a proposta de intervenção, que garantiu ao texto nota máxima na Competência 5, está exposta na conclusão.

Observe os elementos da proposta:

• Agente: Estado, na figura do Ministério da Educação;
• Detalhamento: órgão primordial para a superação de concepções sexistas;
• Ação: criação de um plano governamental e educativo, de ampla divulgação;
• Meio/modo: por meio da disponibilização de verbas estatais;
• Efeito: a fim de formular aulas e campanhas publicitárias que dissertem sobre a igualdade de gênero, o respeito interpessoal e a superação de ideologias misóginas.

A proposta interventiva dá conta de resolver os dois problemas abordados no decorrer da redação, ao sugerir um plano educativo que disserte sobre igualdade de gênero. Dessa maneira, o projeto de texto não deixa nenhuma ponta solta, pois todas as informações foram inseridas por alguma razão.

Competência 1 da redação do Enem

Ao longo da análise, falamos sobre todas as competências, exceto a Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. Para atingir a nota máxima nesse quesito, segundo a Grade Específica de Correção do Enem, a estrutura sintática precisa ser excelente, com, no máximo, uma falha e dois desvios.

Sendo assim, a redação da estudante, ainda que possa conter desvios, se encaixa no descrito do nível máximo. Por isso, ela garantiu os 200 pontos na competência mais temida pelos candidatos que escreveram a redação do Enem.

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